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      Visão de jogo
      Pedro Silva
      2018/08/17
      E0
      Espaço de análise da actualidade desportiva, onde o comportamento, a emoção e a razão têm lugar privilegiado. Uma visão diferente sobre o jogo, para que o jogo seja diferente.

      Falemos do assunto, não de casos particulares. Como dizia alguém do nosso futebol: Vocês sabem de quem é que eu estou a falar…”

      Cada caso é um caso, acontece com alegada pessoa, num determinado clube, num certo momento. Sendo muitas as variáveis, são também muitas as minhas questões.

      Estando do lado de fora e sem interesse por nenhuma das partes, é mais fácil falar deste assunto que é o lado lunar de algo que existe cada vez menos: o amor à camisola, o orgulho em representar um clube e em fazer parte da sua história.

      Os jogadores têm carreiras curtas, vivem numa montanha-russa de expectativas e frustrações, são quem joga o jogo sendo espremido por todo o lado. Por outro lado, olham para os clubes como “pontes”, chegam a um já a pensar sair para outro e desvalorizam as condições que assinam.

      Os clubes tornaram-se empresas, jogam tanto no campo como fora dele, aprenderam uma lição com Bosman, descobriram as cláusulas com Figo, encheram-se de dinheiro com Abramovich e extrapolaram os preços com Neymar. Por outro lado, oferecem uma montra, exigem qualidade, dedicação e rendimento, lidando com humores e egos por vezes difíceis de compreender.

      Os agentes conhecem o meio, identificam necessidades, procuram oportunidades, fazem negócios e ajudam a construir carreiras. Por outro lado, só têm rendimentos se existirem negócios, por isso, também forçam negócios.

      Temos então um cocktail explosivo, com várias possibilidades:

      Quando um jogador quer sair, o agente quer fazer o negócio, mas o clube precisa do jogador, que tem contrato, como se resolve?

      Quando o clube precisa de vender, o agente procura negócio, chegam ofertas mas são desportivamente pouco aliciantes para o jogador, como se resolve?

      Quando um jogador e um clube estão satisfeitos com o que acordaram contratualmente, mas o agente tenta criar condições para fazer um negócio, como se resolve?

      E por aqui podemos continuar, combinando ingredientes…

      Se um jogador, 1 ano depois de ter assinado um contrato de 5 anos (que sabe que é demasiado) com uma cláusula de 100M (que sabe que é demasiado) apenas para segurar a oportunidade de jogar naquele clube e de se promover, quiser sair para outro clube onde terá um contrato melhor, o que pode fazer o clube? O que faz o jogador? E o agente? E se o agente conseguir um negócio por um valor justo mas inferior à cláusula? E se o clube exigir a cláusula? E se o jogador se recusar a treinar? E se o clube virar os adeptos contra o jogador, dizendo que este não tem compromisso e quer sair?

      Um jogador está a 1 ano do fim do seu contrato e recusou todas as propostas de renovação. Assinou por 5 anos e vai cumprir 5 anos, nem mais nem menos. O que faz o clube? E o agente? E, já agora, o jogador? E se o clube fizer o jogador desaparecer durante um ano, colocando-o a treinar sozinho? E se o clube mantiver as oportunidades ao atleta e este for decisivo a dar rendimento e títulos à equipa?

      O agente de um jogador em afirmação na sua seleção, a meia-dúzia de meses de um Europeu ou Mundial, tem uma oportunidade incrível de negócio. O jogador considera o momento inoportuno porque pode não se adaptar imediatamente e, sem jogar, perder a convocatória. O clube quer que o jogador termine a época e não quer mudanças na equipa. O que faz o agente? O que faz o jogador? O que faz o clube? E se o atleta não sair, jogar sempre, for convocado e explodir nessa competição? E se o atleta não sair e não for convocado para a grande competição, desvalorizando?

      Mas quais são, afinal, os pontos fulcrais destas situações e porque se tornam tão complexas, com danos desportivos, financeiros e humanos?

      1.       o carácter motivacional da função de rendimento que é desempenhada pelo jogador;

      2.       a coerência do clube no tratamento do jogador que está no primeiro ou no último ano de contrato, não fazendo distinções;

      3.       a lucidez do agente que consegue ver valorização de um ativo humano-desportivo além do negócio;

      Muito disto se tem visto, por cá e por outras paragens. Como disse, cada caso é um caso, não tiremos conclusões precipitadas nem façamos generalizações. Há soluções para todos os gostos, por todo o lado. Contudo, não tenhamos ilusões: com os valores das transferências a aumentarem exponencialmente, com a liberalização da carreira de agente, com a necessidade de gerir ativos humano-desportivos com os mesmos princípios com que se gerem ativos financeiros, o problema vai ficar cada vez mais atual e pertinente. É o negócio.

      “Football is business and business is business.”Rinus Michels



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