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      A preto e branco
      Luís Cirilo Carvalho
      2018/06/25
      E0
      "A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

      E o Mundial está em pleno curso, prendendo a atenção de muitos milhões de pessoas em todo o planeta, confirmando ser o maior espectáculo desportivo à superfície da Terra, apenas superado pelos Jogos Olímpicos.

      No momento em que escrevo estas linhas, já todas as selecções disputaram dois jogos e, se há algumas que já têm o bilhete de regresso a casa e outras a passagem aos oitavos de final, há ainda muita coisa a decidir em termos de presenças nos oitavos de final.

      O que garante que entre segunda e quinta feira desta semana teremos muito futebol, muita emoção e muitas decisões.

      Portugal é uma das selecções que ainda tem de decidir o seu futuro.

      Começou o Mundial com um empate promissor face à Espanha, depois de um dos melhores jogos que o Mundial teve até agora, em que o talento excepcional de Ronaldo brilhou a grande altura (e não apenas pelos golos) mas a equipa...nem tanto, e depois continuou com um triunfo algo desanimador face a Marrocos, porque embora conquistando os três pontos, a exibição ficou muitíssimo aquém do exigível a um campeão europeu em título.

      Tinha escrito aqui, dez dias antes de o Mundial começar, que Portugal dificilmente seria candidato ao título por ter uma equipa “curta”, em termos de lugares-tenentes de Ronaldo, para lhe permitir essa ambição.

      Os dois primeiros jogos reforçaram essa ideia e reforçaram,também, a análise de que as nossas maiores fragilidades estão no centro da defesa e no meio-campo, onde falta um “10”, como Deco ou Rui Costa, que pegue no jogo e um “8” muito mais rotativo, como Maniche, que carregue a equipa para a frente e garanta uma meia distância eficaz.

      Mas é com os que temos que pela vida temos de fazer e para já estão no bom caminho para os oitavos de final.

      Devo dizer que, tendo este Mundial mostrado já excelentes jogos, como o Portugal-Espanha ou o México-Alemanha por exemplo, ainda não mostrou uma selecção que se possa considerar como claramente favorita.

      Pessoalmente, tenho gostado de algumas delas.

      A Espanha, que tão bem jogou contra nós mas depois desiludiu um pouco face ao Irão, a Alemanha, que começou mal derrotada pelo México mas depois face à Suécia mostrou o habitual “rolo compressor” que intimida qualquer um, a Croácia, que joga muito bem e tem alguns jogadores de alto nível, o México, que derrotou justamente os alemães mostrando uma futebol muito consistente, o Senegal, que venceu a Polónia e depois empatou com o surpreendente Japão, a Bélgica, que com Rússia e Inglaterra tem o ataque mais produtivo da prova, a própria Inglaterra, que pode ambicionar chegar longe, e, finalmente, a Colômbia, que, surpreendida pelo Japão na primeira jornada, esmagou depois a Polónia e mostrou credenciais para poder ter muitas ambições.

      Decepções até agora?

      Polónia, que fez dois maus jogos e já está eliminada, Peru, de quem se esperava mais e também já tem bilhete de ida, Egipto, que nem o “faraó” Salah conseguiu inspirar, e a surpreendente (pela negativa) Argentina, que esteve à beirinha de uma eliminação precoce para o seu valor mas que terá ainda, frente à Nigéria, a oportunidade de continuar em prova e desfazer a péssima imagem que deixou até agora.

      Por falar em péssima imagem, ou péssimas imagens que é mais adequado, não pode faltar uma referência ao VAR, que tem sido uma das maiores desilusões deste Mundial com um conjunto de decisões erradas ou omissões inexplicáveis que parecem decalcadas do VAR que por cá temos.

      Porquê?

      Porque, com raríssimas excepções, que mais não fazem do que confirmar a regra, todas essas decisões polémicas tem sido em benefício das selecções de países mais fortes, com mais adeptos e poder financeiro (e portanto com maior retorno publicitário), que são aqueles que a FIFA quer ver em prova até às fases mais adiantadas da competição.

      Portugal foi a primeira vitima disso quando ninguém viu a flagrante falta de Diego Costa sobre Pepe, mas depois houve muitos outros com a Alemanha, por exemplo, a beneficiar já de dois monumentais erros quando o árbitro não marcou e o VAR fez de conta que não viu (era impossível quatro vídeo árbitros não terem visto) um pénalti flagrante a favor do México no primeiro jogo que, apesar disso, não teve influência no vencedor, e outro no segundo favorável à Suécia (mais a expulsão de Boateng) que poderia ter significado a eliminação alemã.

      E quando o VAR falha assim na prova máxima do futebol mundial, é a prova que faltava de que ele não serve para ajudar a melhorar a verdade desportiva mas sim para garantir que os sempre mais beneficiados não deixam de o ser.

      Lá como cá!

      Voltando à selecção portuguesa, que joga hoje face ao Irão a sua passagem aos oitavos de final, há que dizer três coisas.

      A primeira é que Portugal é favorito, claro, mas terá de fazer jus a esse estatuto dentro do terreno de jogo com um futebol agressivo, ambicioso e em que os restantes jogadores se convençam que não pode ser Ronaldo a resolver tudo sempre.

      A segunda é que Fernando Santos tem de deitar para trás das costas o habitual conservadorismo quanto a mexer na equipa e dar oportunidade a outros jogadores para alinharem de início e tentarem dar à equipa mais posse de bola, mais agressividade ofensiva e mais diversificação das soluções.

      Quaresma, Adrien, André Silva e Ricardo Pereira são aqueles que, do meu ponto de vista, podem preencher esses requisitos, mas também Manuel Fernandes pode ser hipótese a considerar.

      A terceira é olhar com muito respeito, mas sem qualquer temor, para o Irão.

      Venceu Marrocos, fez a vida negra à Espanha, é uma equipa sem vedetas mas com grande coesão, que luta por cada bola como quem luta pela vida e já demonstrou sair muito bem em contra-ataque.

      E ainda por cima é treinado por alguém que conhece perfeitamente a selecção portuguesa, nomeadamente os seus pontos fracos e insuficiências, e que certamente armará um dispositivo táctico que explore a dificuldade portuguesa em assumir o jogo.

      Ter atitude, assumir mudanças, respeitar o adversário são os três pressupostos de cujo cumprimento depende sabermos se os portugueses irão em frente rumo aos oitavos de final...ou não!



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